Antonino era um fazendeiro simplório. Ele saiu da cidade antes dos dezoito anos para ir morar com sua atual esposa na casa dos pais dela, em uma área um pouco mais afastada. Como um plebeu de Futura, um dos conjuntos de reinos da Aliança Resistente, localizada no continente de Gerrah, Antonino não conhece a tecnologia do mundo lá fora e vive, como chamado pelos forasteiros de outras nações, a “vida medieval”.

Essa vida medieval, porém, não é nem um pouco simples quando comparada às de outras nações nos tempos modernos. A fauna local é a mais perigosa do plano Caeruleum, composta por bestas enormes e de aparência reptiliana, nomeadas dinossauros. Essa composição de animais torna Futura um local especialmente perigoso, principalmente comparada às outras regiões de Gerrah que possuem um clima mais extremo, dificultando a ampla proliferação desses animais enormes e mortais.

Para equilibrar o lado das personas que vivem ali, a magia e domesticação desses animais é amplamente usada. Embora nenhum mago, Antonino era um ótimo adestrador, e possuía sua própria matilha de raptors, que o ajudavam a manter sua fazenda segura. Ele também possuía alguns alarmes mágicos espalhados pelo local, tão necessários para a vida rural em Gerrah que se tornaram facilmente adquiríveis através de vendedores especializados. Ao identificar uma ameaça de grande porte, estes alarmes irão emitir sons e luzes fortes, com o intuito de afastar qualquer animal que esteja se aventurando por ali.

O dia de Antonino amanheceu tranquilo. Como de praxe, ele foi o primeiro da família a acordar, preparou um pão com presunto e se pôs a trabalhar no campo. A maior parte do seu rebanho são paquicefalossauros, a origem do presunto que ele comeu no café da manhã, e alguns poucos ceratopsídeos pequenos. Sem o devido conhecimento, podem se tornar animais bem perigosos de se manter, e não é raro que seja contado histórias de pastores que morreram pelo seu próprio rebanho.

Seus velociraptors, no entanto, o ajudavam a manter o rebanho sob controle. Quando bem treinados, como estes são, esses animais podem ser tão leais quanto cães, e ainda mais perigosos devido ao seu elevado poder ofensivo.

Antonino passou a manhã inteira realizando suas tarefas e gerenciando os animais. Enquanto limpava o cercado dos paquicefalossauros, ele encontrou algo que o deixou um pouco desconcertado: rastros de sangue. Seu primeiro pensamento foi que os raptors haviam machucado um dos outros animais da fazenda ou até mesmo se machucado, mas então ele decidiu fazer uma contagem de todos os seus animais, buscando verificar se todos estavam ali, para depois procurar por feridos.

No final de sua contagem, ele chega em um número nada agradável. Dois animais não estavam ali. Seu olhar vasculhava o horizonte e o bosque ao seu redor, como se a qualquer momento um tiranossauro iria sair das árvores e investir em direção à sua fazenda, mas nada aconteceu.

O momento de pausa e medo é interrompido pelo chamado de sua esposa, Emma, chamando-o para o almoço.

***

Antonino esperou suas crianças, Lara de 8 anos e Júlio de 6 anos, terminarem seus respectivos pratos e saírem da mesa para dar a notícia à sua esposa. Sua reação foi de preocupação, seus olhos castanhos levemente obscurecidos por madeixas de seu cabelo loiro  se voltaram para o exterior da fazenda, vasculhando de forma nervosa.

— E o que você vai fazer? — disse ela, preocupada.

— Vou procurar por algum predador que tenha conseguido se enfiar aqui, talvez ele esteja se escondendo dentro do estábulo. Faz bastante tempo que não dou uma boa limpada naquilo.

— E quanto aos alarmes? O que você acha de eu ir na cidade e chamar alguém para vir dar uma olhada?

— Parece uma boa ideia. Talvez eles não estejam funcionando adequadamente.

Ambos parecem chegar em um acordo sobre qual ação deveriam tomar, e saem para cumprir suas respectivas tarefas.

Enquanto Emma vai até a cidade, Antonino pega sua besta e algumas setas e vai vasculhar o estábulo, que não é usado pela família há algum tempo. Acompanhado pelos seus raptors, ele procura de canto a canto por qualquer ameaça na fazenda, mas acaba não encontrando nada. No meio para final da tarde, um homem vindo da cidade chega junto de Emma, e faz a vistoria nos alarmes.

Para a surpresa de todos, os alarmes estão funcionando perfeitamente, e o homem comprova isso testando-os com seu próprio parassaurolofo. Ele recomenda que eles fiquem de olho por mais indícios de sumiços e, deixando o casal de fazendeiros apavorado, diz que talvez seja bom que eles contratem um Caçador eficiente caso isso continue. Afinal, as criaturas da Praga não disparam estes alarmes independente do seu tamanho.

Durante a noite, foi difícil para o casal dormir. As palavras do arcano sobre a possibilidade de uma criatura da Praga estar vivendo por ali os assustaram para valer, e literalmente os deu pesadelos.

De manhã, Antonino foi até o campo com a esperança de encontrar tudo em ordem, apenas para ser bombardeado por um misto de frustração e medo. Antes de adentrar o cercado já era possível ver o que o esperava: um dos seus ceratopsídeos semi-devorado jazia morto em uma pilha fétida no meio do campo.

Ele se aproximou o suficiente para identificar que aquele não era nenhum trabalho de um animal selvagem e, antes que ele acabasse se infectando com a Praga caso o responsável tivesse sido um Arauto, ele se afastou e saiu do cercado, deixando o corpo moribundo ali.

Assim que Emma soube das novidades, ela entrou em pânico. Antonino fez o máximo que podia para acalmá-la e disse que eles iriam contratar um Caçador para eliminar a ameaça no local. As crianças, ao verem seus pais desesperados, também ficaram assustadas.

— Temos dinheiro o suficiente para contratar um Caçador, se lembra? — disse Antonino após o pico do pânico, conversando em privado com Emma — Aquele dinheiro que estávamos guardando para comprar os iguanodontes, podemos usá-lo para deixar um contrato na cidade.

— É, eu sei… — disse Emma, que pareceu um pouco incerta.

— O que foi? Você ainda tem o dinheiro, não é?

— Sim, eu tenho — ela se levantou do assento onde estavam e se dirigiu até uma gaveta e, utilizando uma pequena chave, abriu-a, revelando a poupança da família. Antonino se levantou e foi até ela, ambos olhando para o dinheiro ali dentro. Emma deu um suspiro e olhou para seu marido — Posso ir hoje até a cidade novamente e colocar o contrato. O que você acha?

— Sim, pode ser. Enquanto isso, posso ir até o casarão dos nossos vizinhos e avisá-los do que está acontecendo, e perguntar se não viram nada fora do comum.

Novamente, ambos chegam em um acordo.

Seguindo o acordo, Antonino sai de casa e vai até o casarão dos seus vizinhos. Emma, no entanto, sem Antonino ter a chance de sequer desconfiar, esconde parte do dinheiro e utiliza apenas a outra parte dele no contrato para o Caçador.

Ao chegar no casarão, Antonino foi bem recebido por Wander, seu vizinho. No caminho para lá, ele percebeu que não havia nenhum animal de fazenda à vista na casa de seu vizinho e, conversando melhor com Wander, entendeu que o mesmo estava acontecendo com ele. Wander diz também que eles infelizmente não haviam dinheiro para contratar um Caçador.

Antonino ofereceu os serviços do Caçador que ele estava contratando, afinal, o problema deles devia ser o mesmo. Com a ajuda e informação de Wander, o Caçador provavelmente conseguiria executar seu serviço com mais facilidade. Wander concordou, e agradeceu convidando-os para um jantar na noite seguinte.

Quando Emma retornou, Antonino a contou como foi a sua visita, e sua esposa lhe informou que o contrato estava público na cidade e em nível emergencial, e que já estava até atraindo a atenção de alguns Caçadores.

***

Era de manhã, embora Antonino estivesse dentro da casa ao invés de trabalhando no campo devido aos riscos agora conhecidos, quando alguém bateu na porta de sua casa.

Ao abrir a porta, o homem viu uma mulher em armadura hinanesa branca com detalhes vermelhos, medindo por volta de 1,60m. Ela não aparentava ter muito mais que 20 anos de idade, e possuía cabelos ruivos presos em um rabo de cavalo volumoso atrás de sua cabeça, acompanhados por duas orelhas de raposa no topo de sua cabeça, também de cor alaranjada mas com extremidades pretas. Seus olhos eram azuis como o céu de Darenvia, e sua expressão era séria. Em suas costas, havia uma grande mochila com algumas armas tradicionais de Hinan.

— Bom dia, senhor — disse ela, com uma voz calma e fazendo uma pequena reverência — Foi aqui que solicitaram um Caçador? Meu nome é Rin. Nakahara Rin, ao seu dispor.

— Sim, foi sim — disse Antonino suspirando de alívio — Eu sou Antonino. Foi minha esposa Emma que firmou o contrato, mas você também pode contar comigo caso precise de alguma coisa.

— Perfeito, senhor Antonino. Eu já consegui ver de longe alguns animais mortos em seu campo. Haveria problema se eu investigasse melhor a área imediatamente? Pretendo expurgar a Praga o quanto antes para não haver nenhuma infecção.

— É claro que não. Por favor, fique à vontade.

A garota deu um pequeno aceno com a cabeça e se virou, se dirigindo ao campo onde ficam os animais.

Aliviado, o fazendeiro buscou sua família para contar a notícia de que uma Caçadora já estava na fazenda, e que logo logo eles estariam seguros novamente.

Suas crianças brincavam de pega-pega no sótão da casa sob o preocupado olhar de Emma quando Antonino apareceu para lhes contar as novas.

— Estamos seguros agora — disse ele — Uma Caçadora está lá fora cuidando do perigo.

Emma pareceu a mais aliviada ali, como se um peso tivesse finalmente sido removido de suas costas. As crianças ficaram curiosas com essa tal Caçadora, e bombardearam seus pais com perguntas sobre ela. Marido e esposa colocaram uma criança sobre o colo de cada um e contaram histórias sobre a Caçada e a Praga, visando distraí-las do perigo lá fora.

Não demorou muito para uma nova batida na porta acontecer. Antonino deixou Lara e Júlio com sua esposa e desceu do sótão, indo até a porta da frente. Ao abri-la encontrou a Caçadora, que não parecia ter se envolvido em nenhuma luta ainda.

— A Praga está devidamente expurgada do cadáver, que felizmente não se levantou — disse a Caçadora, olhando para dentro da casa — Você se importa de eu entrar? Talvez seja uma boa dar uma olhadinha aí dentro também.

— É claro que não. Por favor, entre — disse Antonino enquanto saía da frente da porta, abrindo espaço e fazendo um gesto para que Rin entrasse.

A Caçadora removeu seus sapatos ao entrar como forma de respeito. Enquanto isso, Antonino deu uma olhada para seus campos, que um dia agiam como um porto seguro para ele. A Caçadora deu alguns passos, se movendo para o interior da casa, e disse:

— É uma bela casa, senhor Antonino. Será que você poderia me ajudar a explorá-la? Quero garantir que não há perigo para vocês aqui dentro.

Antonino concordou e fez exatamente como ela pediu. Juntos, eles vasculharam a casa de cima a baixo, até que finalmente chegaram ao sótão. Lá, Rin pôde conhecer a esposa de Antonino e seus filhos. As crianças ficaram encantadas com a armadura e os equipamentos da Caçadora, mas seus pais a mandaram ficar quietas enquanto Rin trabalhava.

Após Rin finalizar a busca dentro da casa e constatar que tudo estava em ordem, ela se reuniu para conversar com Emma e Antonino, o qual comentou para ela o convite de Wander e que ele também estava tendo o mesmo problema.

— Bem, pela lógica, se todos os animais dele já foram comidos, os seus serão os próximos. Por isso, vou colocar algumas armadilhas pelo perímetro. Não irei até o terreno do seu vizinho agora, irei me concentrar em proteger o seu terreno e manter a sua família em segurança — disse Rin, trazendo conforto à família de fazendeiros — Se vocês me permitirem, desejo acompanhá-los até o jantar com a família de Wander e, enquanto vocês jantam juntos, farei a vistoria do terreno. Como uma Caçadora de Lunara, a noite e a lua são minhas aliadas.

***

Antonino e Emma estavam satisfeitos com o plano da Caçadora, então seguiram de acordo. Pela noite, a família se preparou para ir até o jantar na casa de Wander. Para não parecer mal educada, Rin retirou sua armadura e manteve apenas uma espécie de camisa de cota de malha por baixo de seu kimono, chamada de manju no wa por sua cultura. De fato, era extremamente desconfortável quando usada direto sobre a pele e de longe a coisa mais efetiva que ela poderia trajar mas, para Rin, era muito mais confortável e efetivo do que uma garra partindo sua clavícula e rasgando seu pulmão. No entanto, a armadura cobria apenas dos seus ombros até uma linha logo abaixo do seu coração. Rin esperava que isso fosse o suficiente para protegê-la de ataques vindos de criaturas mais altas que ela, especificamente do Arauto que está predando os animais do fazendeiro. Ela também estava carregando sua tríade de armas: uma katana, uma wakizashi, e uma tantō. Sua arma preferida era, na verdade, uma arma de haste, mas essa não era apropriada para um jantar amigável.

Ao chegar no terreno de Wander, a Caçadora imediatamente começou a escanear a área com os olhos, procurando por ameaças. Das quatro trilhas de Caçadores, os Caçadores de Lunara são os segundos que melhor lidam com a escuridão, e são os melhores em lidar com a escuridão da noite.

Sem encontrar nada fora do ordinário, além dos campos vazios de animais, o grupo caminhou até a porta da frente da casa de seus vizinhos.

Ao baterem na porta, Wander os recebe. De imediato, Antonino percebeu que seu vizinho está usando a exata mesma roupa que estava usando quando o recebeu ontem. Era possível ver pela porta aberta que a família de Wander observava-os por detrás de Wander: sua esposa e sua filha com não mais de doze anos.

Rin estava um pouco mais atrás do grupo com sua atenção nos campos da fazenda quando Wander convidou a família do fazendeiro para entrar em sua casa, e eles assim o fizeram. Ela ouve Antonino comentando sobre ela e, neste momento, gira seu corpo em direção à porta da casa de Wander, a qual fecha abruptamente.

No entanto, por uma greta antes da porta ser fechada, ela consegue ver que há algo de errado com os vizinhos de Antonino e Emma. Rin correu na direção da porta quando começou a ouvir gritos assustados de lá de dentro. Ao chegar diante da porta fechada, tentou abri-la e encontrou-a trancada.

Utilizando de poderes arcanos, Rin arranca a porta das dobradiças com tremenda força, e a derruba no chão. Olhando para dentro da casa, procurando a origem dos gritos, ela vê que Emma e as crianças estão assustadas, enquanto Antonino é segurado por Wander e o resto da família deste homem avança em direção à família de Antonino.

Nakahara Rin interviu, gritando para que Emma fuja com as crianças enquanto ela empurra as ameaças para longe de Antonino, de novo utilizando sua magia arcana de gravimancia. Assim que Antonino estava livre das fortes mãos de Wander, Rin também ordenou-o para sair dali, deixando-a sozinha contra Wander e sua família. Utilizando de habilidades providenciadas por sua posição como Caçadora de Lunara, ela pôde confirmar que todos estes diante dela, até a criança de doze anos, eram Arautos da Praga.

A Caçadora sacou sua katana e se colocou entre a porta de saída e os monstros, estudando-os. Os monstros lentamente caminhavam em sua direção, sem quebrar o contato visual dela por sequer um segundo. Ela percebe que a esposa de Wander está com uma faca em sua mão.

Subitamente, os Arautos investiram na direção dela e a atacaram com selvageria, tentando atirá-la ao chão. A faca com a mulher passa por centímetros de abrir um rasgo profundo na barriga desprotegida de Rin, apenas abrindo um corte superficial logo abaixo de suas costelas ao invés disso.

Com perícia e poder arcano, a Caçadora conseguiu emergir vitoriosa da luta contra os adultos, os quais não foram perdoados por sua lâmina. Após lidar com as ameaças maiores, ela se virou para enfrentar a menina de doze anos. Sua mente hesitou e sua mão começou a suar ao redor do cabo da espada diante da necessidade de matar uma criança, mesmo que essa criança fosse um monstro.

No entanto, assim que a criança tenta agarrar sua perna e mordê-la, ela o fez mesmo assim. Enquanto o corpo desprovido de vida da menina se junta aos corpos de seus pais no chão, Rin olhou para fora da casa e viu Antonino e sua família correndo em direção à sua própria casa, em segurança.

Antes que pudesse comemorar, a Caçadora ouviu algo atrás dela. Espreitando pelos corredores da casa, uma criatura disforme e horrenda lentamente se aproximava. A altura desse monstro era de quase dois metros de altura, ele não utilizava nenhuma roupa e sua aparência era a qual de um boneco derretido, com a cabeça colada junto ao tronco por uma pele flácida e enrugada, e membros desproporcionais.

Ao perceber que foi detectada, a criatura correu em direção à Rin e, antes que a Caçadora pudesse se defender, a acertou com uma das mãos em seu ombro esquerdo. A Caçadora rapidamente ergueu sua lâmina e se pôs a se defender de novos ataques.

A boa notícia é que graças à armadura, Rin não sofreu nada além de uma pancada forte no ombro. A má notícia é que a pancada foi forte o suficiente para tirá-lo do lugar, desabilitando-o neste combate.

Vendo que estava em desvantagem, Rin se afastou da criatura e desembainhou sua wakizashi com a mão direita, enfiando-a fundo no peito da criatura e utilizando sua arcana para empurrá-la para longe.

A criatura era mais inteligente do que parecia, e ao perceber a capacidade que a Caçadora diante de si havia de empurrá-la sem sequer tocá-la, começou a arremessar objetos aleatórios que encontrava pela frente em direção à Rin. A magia de Rin era puramente ofensiva, e ela não tinha muito o que fazer contra os móveis que voavam em sua direção, tentando se defender da melhor forma possível com o seu braço bom.

Enquanto a Caçadora se defendia dos objetos e tentava formular um plano para sobreviver a situação, ela sentiu uma pontada em suas costelas. Ao olhar para baixo durante a chuva de porcelana e móveis que estava recebendo, Rin percebeu que um dos objetos arremessados foi uma faca, este que havia atravessado sua armadura e cravado em seu corpo.

Rin estava sentindo dificuldades para respirar e bastante dor, quando viu a criatura erguendo a mesa de jantar que estavam entre os dois combatentes. Utilizando seu poder arcano mais uma vez, ela empurrou a mesa contra a criatura, forçando-a contra uma parede.

Utilizando a mesa como um enorme martelo, ela continuou fazendo-a recuar e se chocar com a criatura, atordoando-a enquanto a Caçadora se aproximava. Quando a mesa se chocou uma última vez, partindo-se em pedaços, Rin estava logo atrás e pronta para desferir o golpe final, removendo a cabeça disforme do monstro com um único golpe com sua wakizashi.

Nakahara Rin deu dois passos para trás, se afastando do monstro enquanto ele caia morto no chão. Ela escaneou a casa por mais ameaças e, ao não encontrar mais nenhum sinal de perigo, embainhou sua espada novamente.

Antes de voltar ao casarão de seu contratante, Rin fez questão de vasculhar todo o recinto e garantir que nenhum monstro havia ficado para trás, e também de expurgar as almas corrompidas dos Arautos que foram mortos. Afinal, caso ela não fizesse o expurgo, os Arautos estariam de volta em um dia.

Deixando um rastro no caminho, Rin caminhou de volta até a casa de Antonino, mas finalmente sucumbiu pela perda de sangue e pela exaustão antes de conseguir bater na porta.

***

A Caçadora abriu seus olhos e se viu em um ambiente fechado, deitada em algo confortável. A família a encontrou caída na frente de sua porta e prestou o auxílio tão necessário naquele momento. Havia um curativo onde a faca penetrou suas costelas, e ela estava descansando confortavelmente em uma cama improvisada.

Antes de Rin acordar, pela manhã, Emma contou à Antonino sobre parte do dinheiro que ela não utilizou no contrato. A primeira reação de Antonino foi de raiva e apavoro, mas foi amenizada por Emma que conseguiu convencê-lo de que ela fez a coisa certa, pois agora eles estão seguros e ainda possuem o dinheiro necessário para comprar pelo menos parte dos animais que planejavam comprar.

Quando a Caçadora acordou, ela foi bem recepcionada na mesa para o almoço e recebeu agradecimentos de toda a família. Ela foi convidada para passar pelo menos mais uma noite ali, enquanto se recuperava um pouco melhor dos seus ferimentos. Com um pouco de relutância, ela aceitou.

No outro dia, logo pela manhã, Antonino iria sair em uma viagem de alguns dias para negociar com o seu fornecedor de animais de fazenda enquanto Emma fazia uma limpa no terreno e organizava as coisas novamente, e ofereceu uma carona em sua carroça até a cidade para Rin, que aceitou de bom grado.

Nakahara Rin se despediu da família e ao chegar na cidade se despediu do fazendeiro, que seguiu para realizar a compra dos iguanodontes em uma fazenda consideravelmente distante.

Dias após sua saída, Antonino retornou à sua casa vitorioso e trazendo seus mais novos animais. Depois de deixar os animais no cercado, Antonino percebeu que Emma e suas crianças estavam um pouco mais quietas que o normal. Não era de se surpreender, já que todos eles haviam passado por um momento muito traumatizante. Algo, no entanto, o deixou preocupado: Emma não estava utilizando o colar de prata que ele havia lhe dado alguns anos atrás, em seu pedido de casamento. Será que ela estaria brava com ele, ou será que era apenas uma limpeza? O fazendeiro decidiu que conversaria sobre isso com ela depois, pois estava cansado demais para isso no momento. Ele só queria colocar aqueles animais no cercado e comer uma boa comida.

Já era logo antes do anoitecer e, enquanto sua esposa trabalhava na cozinha, Antonino foi até o estábulo abandonado, decidido em arrumá-lo de vez o mais breve o possível. Ele estava capinando a área logo na frente deste e, ao se aproximar das portas do estábulo, ele encontra algo que traz um calafrio em sua espinha: o colar de Emma estava no chão logo na frente das portas.

Investigando de mais de perto, Antonino viu sangue. Um rastro que levava para dentro dos estábulos. Ele não conseguiu segurar sua ansiedade e abriu as portas imediatamente. Lá dentro, com a pouca luz que o sol ainda providenciava, ele viu diversas criaturas com corpos e rostos disformes, além de diversos ovos nojentos de quase meio metro de altura. Todas as criaturas lá dentro, pelo menos sete, olharam para ele de forma sincronizada. Elas estavam utilizando o estábulo como uma casa, e essa mudança parece ter sido recente. As criaturas disformes eram humanóides e pareciam estar cuidando dos ovos.

No meio de todas elas, havia uma criatura maior e ainda mais horripilante. Formada pela parte superior do corpo de um humanoide e da cintura para baixo um abdômen inchado e flácido, como o de uma formiga mas feito de carne e pele quase-humanas. A criatura possuía um par de braços humanos saindo de seus ombros, mas haviam dois pares de pernas saindo de uma região mais próxima do abdômen, este que tinha o tamanho de uma carroça grande. Aquela era claramente a origem de todos aqueles ovos.

Em horror, Antonino dá um passo para trás, enquanto as criaturas lentamente param de fazer o que estão fazendo e mudam seu foco para ele. Nisso, ele sente que esbarra em alguém e, ao olhar para trás, vê e ouve Emma falar:

— Querido, o jantar está servido.

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